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CARVALHO NETO
João Ribeiro de Carvalho Neto (21-09-1944, Amarante - PI) é um poeta brasileiro.
João Ribeiro estudou em Teresina, São Luís, Salvador e Fortaleza. Participou do movimento estudantil e graduou-se em Odontologia na Universidade Federal do Ceará.
Ainda em Fortaleza, tomou conhecimento dos movimentos culturais dos anos 60, "partindo, na época da Faculdade, para a fundação de um jornal, que abria amplo espaço para a poesia". Funcionário público, atua como odontólogo no IAPEP, na Fundação Municipal de Saúde e no Hospital da Polícia Militar, residindo em Teresina onde também trabalha no Programa Saúde da Família.
Participou das antologias: Baião de Todos – Editora Corisco (PI); Visão Histórica da Literatura Piauiense – Herculano Moraes; Nordestes – Fundação Joaquim Nabuco (Recife – PE); Antologia Poética – Projeto Mão Dupla (PI-CE); A Poesia Piauiense no Século XX – Assis Brasil.
Obras: Variantes do Berro (1978); Arquitetura do Ser (1982);
Da Oportuna Claridade (1997); Alegoria (2009).
Biografia: wikipedia.
CHAMAMENTO
rouba da gaivota ao voo a musicalidade
e na cidade faz a partitura de tuas dores
criatura com mãos de todos os andores
encharcadas de suor, de mil licores
constrói a nova poesia
guarda a solidão da praça vazia
no bolso do casaco
e com pés e direitos feridos, abre estradas
amada, demais amadas, marcadas
como versos na rocha
rouba aos olhos todos os rancores
que os senhores não abaterão teu brio
teu amanhã será depois de amanhã
e não ficarás na outra margem do rio.
(do livro Variantes do berro, 1978)
POEMA DE LOUVOR A AMARANTE E A VIDA
(Remansos)
quem ouviu o grito plantado na vida do rio
e percebeu o mistério dos olhos na ciranda
das águas
aprendeu que a esperança anda a galope
nas margens do Parnaíba.
guarde no peito com cuidado
os nostálgicos sons de Amarante
dos rios, serras e segredos
partitura do nosso encantamento
casarão da rua principal
rua do fogo, do fio
areias da minha vida.
quem ouviu o crepitar da acendalha
no beiço da ribanceira
e percebeu o renascer da invernada
no ciclo evolutivo das sementes
aprendeu que o povo guarda o segredo
das raízes.
desça hoje a escadaria
entre fantasmas azuis
e lusas lembranças
da cidade que entre rios
delira
onde uma gente luminosa e livre
amorosamente livre
constrói o amor definitivo.
ali o mundo mágico dos sentimentos
se agiganta
aqui a poesia brinca nos areiais
da confluência
(do livro Mão dupla, 1944)
MERGULHO NO MAR DE SARGAÇOS
à memória de Mário Faustino
transpiro o magnetismo graxo da inquietação
sendo súplice da vitória
que monta o homem no espinhaço da
mantiqueira
agora estou no regaço a cismar a
transubstanciação
daquele que galopando rumos não pagou
dízimo
precisou mergulhar no mar de sargaços
e enxugar-se na aragem do vale
para que eu admitisse seu teorema, de
tempo-vida
(do livro Variantes do berro, 1978)
Página publicada em janeiro de 2020
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